O texto abaixo foi escrito em uma de minhas lives de escrita na Twitch, em algum dia de novembro. A prompt era para escrevermos sobre um humano que troca de corpo com seu gato.
Ninguém está entendendo por que eu de repente estou falando de forma sofisticada. Nem eu mesmo. Quer dizer, eu não, meu gato. Nunca achei que gatos fossem mais cultos que humanos, mas, enfim, vivendo e aprendendo. O fato é que meu gato está se passando por mim e ninguém sabe, enquanto eu estou me passando por ele e ninguém sabe também.
Se ele falasse algo – digo, se eu falasse algo – ninguém ia acreditar, de qualquer forma, então é melhor evitar visitas a médicos. Principalmente porque ele chora – digo, meu corpo que não sou eu – toda vez que vai tomar banho. Todo mundo aqui acha que eu estou deprimido.
Mas eu – o meu eu de verdade, o que está no corpo do gato – está o contrário de deprimido. É engraçado (e às vezes constrangedor) ver o que as pessoas fazem quando estão na frente de animais de estimação. O fato de a gente – digo, eles – não falarem a língua dos humanos não quer dizer que os humanos não possam ficar mal falados pela vizinhança inteira. Já fiquei sabendo de cada babado nas últimas 3 noites que saí pelos telhados!
A única coisa ruim desse corpo aqui é ter que ficar roendo minhas unhas todos os dias. Agora eu entendo o motivo de todos os estofados da casa estarem destruídos. Se eu fosse voltar a ser humano, certamente colocaria mais móveis para o Gastón usar como se fossem dele.
Digo “se eu fosse voltar a ser humano” porque, sei lá, eu gostei de ser gato. O primeiro ponto superpositivo é não ter que trabalhar. O segundo, é claro, é a soneca de 14 horas por dia.
Mas não é tão simples assim ficar nesse corpo pra sempre, eu sei. Na verdade, ter vindo parar aqui já é algo que às vezes me pergunto se é verdade. Teve algo a ver com o alinhamento dos planetas, de acordo com o que fiz o Gastón – que na verdade é o Dom – pesquisar na internet. O site (confiável) dizia que pensamentos muito fortes poderiam se materializar naquele dia e, por sorte (ou por destino, quem sabe?), eu e Gastón estávamos pensando na mesma coisa, na mesma hora, que coincidiu com o exato momento em que Marte estava na mesma posição que Vênus (ou será que era Júpiter?). Eu pensei “queria tanto ser gato!” enquanto o Gastón pensava “queria tanto ser humano!” e os planetas em questão pensavam “tô doido pra acasalar!”. Deu no que deu.
O Gastón agora está vendo o que é bom. Ele queria ser humano para ter acesso aos sachês e aos petiscos sem ter de pedir. Dei muita risada quando ele tentou comer a que é agora minha comida preferida. O rosto dele só não ficou verde porque isso só acontece em desenhos animados. Foi um dos dias mais felizes da minha vida, pois, além de gargalhar, ganhei um pacote inteiro de Whiskas só pra mim.
E o Gastón, coitado, ainda nem pagou a fatura do cartão em que os sachês foram comprados. 10.000 sachês, dá pra acreditar? Estou no céu! Vou ronronar no colo dele até não poder mais para poder agradecer. Será que ele me deixa ficar no corpo dele se eu ronronar muito, mas muito mesmo? A gente vai ter que esperar 3 meses para que os planetas voltem para o lugar e poder trocar de corpo de novo, o que, pra mim, tá sendo ótimo.
Já o Gastón exclamou, quando descobriu: “Além de estar preso nesse corpo sem elasticidade nenhuma, ainda tenho que esperar esses planetas terminarem de copular! É o cúmulo do absurdo deixar um gato esperando por tanto tempo!”
Acho que ele não está muito contente vivendo no meu antigo corpo, mas fazer o quê? Talvez a gente encontre um jeito de ele ficar feliz algum dia sem eu ter que sair daqui. Talvez eu encontre um jeito de fazê-lo pesquisar sobre como fazer humano e gato conviverem no mesmo corpo.
É muito óbvio que não fiz pesquisa alguma para escrever esse texto, mas achei importante reforçar isso como nota final. =P